sábado, 17 de outubro de 2009

Cristianismo e Cultura Parte 2


  1. Desvalorização Fundamentalista da Cultura

Em nossa primeira postagem, introduzimos um assunto extremamente importante para a nossa vivencia cristã: A relação entre fé e cultura. Para uma melhor compreensão da nossa discussão precisamos definir o que estamos chamando de cultura. De forma bem simplória cultura é: um fenômeno humano de produção de conhecimento, de expressão artística; é a forma como um determinado povo organiza sua vida, como se alimenta, como se veste, como fala e etc.

É provável que a proposta mais comum para resolução da tensão entre fé cristã e cultura seja a depreciação fundamentalista ou mesmo a “demonização” das culturas. Frases como “música do mundo é do diabo”, “Rock in Roll não é coisa de homem de Deus”, “futebol é coisa do capeta”, “evangélico não pode fazer artes marciais”, dentre outras tantas, são expressões claras desta postura “teológica”.
Essa proposta tem seus antecedentes históricos em um movimento norte-americano chamado fundamentalismo cristão. Entre os percussores deste movimento podemos citar: o avivamento de Moody (1837 – 1899), a Universidade de Princeton (1812 – 1921); e teólogos como Alexander Archibald; Charles Hodge; A. A. Hodge; e Bejamim Worfield.
A primeira fase deste movimento foi sem dúvida de grande contribuição para a reflexão teológica e para a vivência cristã. Nesta fase foi publicada uma série chamada “The Fundamentals” que propunha cinco fundamentos centrais da fé cristã: 1) os milagres; 2) o nascimento virginal; 3) a morte expiatória; 4) a ressurreição de Cristo; e 5) a autoridade das Escrituras.
Entretanto, o principal líder deste movimento W. B. Riley declarou, em 1919, o dispensacionalismo (visão deturpada da escatologia bíblica) como um dos fundamentos da fé cristã. A partir desse instante, é inaugurada a segunda fase do movimento, que se caracteriza por: 1) uma leitura extremamente literalista da Bíblia; 2) uma visão distorcida da escatologia; 3) uma defesa do criacionismo FIAT (instantâneo); 4) uma postura separatista; 5) uma crítica ao “Evangelho Social” 5) um anti-comunismo – conservando o “esplendido” espírito capitalista norte-americano e, por fim, 6) uma rejeição da cultura em geral (arte, teatro, etc.).
È evidente o fato de que o cristianismo evangélico no Brasil herdou diversos traços deste movimento. Entretanto, no momento, interessa-nos apenas o fato, de que, influenciado pelo fundamentalismo a proposta evangélica mais comum para resolver a tensão entre fé cristã e cultura se resume em uma simples rejeição indiscriminada das manifestações culturais.
É extremamente comum nos deparamos com afirmações que depreciam as iniciativas musicais, teatrais e cinematográficas que não assumem o pretenso título de cristãs. A verdade é que quando as manifestações culturais não expressam o mais elevado “ideal cristão”, ou melhor, o mais excelso “espírito gospel” são taxadas de práticas pecaminosas e diabólicas.
Realizaremos na próxima postagem uma análise levantando algumas objeções a esta postura teológica. Entretanto gostaria de adiantar, que, infelizmente ,existe uma relação direta entre esta proposta fundamentalista e a ética de cunho separatista, que transformou muitas igrejas evangélicas em verdadeiros guetos da sociedade.

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